sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Tédio

TÉDIO
*Carlos Mota
En-jo-ei daquele maldito analista. Vivo uma vidinha insossa, mas ele quer por que quer me provar que eu sou o mais feliz dos homens, só porque tenho este iate de 267 pés, um tamanho descomunal que me faz perder a cada instante em seus decks. Além do mais, casas em Mônaco Ibiza e os malditos apartamentos em Paris e Nova Iorque só me trazem um desejo enorme de me refugiar em minha ilha em Bali e de lá nunca mais sair. Mas, ainda assim ele pensa que sou um boa vida, sem levar em conta que o CEO de minhas empresas me faz perder, a cada mês, longos e entediantes quinze minutos, resumindo para mim calhamaços de relatórios, enquanto meu maitre, a meu lado, quer que eu engula caviar, empurrado goela abaixo por uma taça de Moet Chandon. Meses atrás entrei no ramo do petróleo e, num único dia, com a empresa ainda no papel, vendi quinze bilhões em debêntures. Quando lhe contei, o abusado me considerou um sortudo, mesmo eu provando que fiz um péssimo negócio, pois agora o CEO vai querer me surrupiar, mensalmente, mais alguns minutos. E, para agravar ainda mais a minha depressão, não posso contar com os amigos que tenho, que bem podiam me ajudar. A única coisa que eles fazem por mim – e nisso tenho que lhes ser grato – é a imprescindível ajuda que me dão transando com as minhas amantes. Mas até nisso eles estão ficando relapsos, pois bem aqui sobre esta majestosa cabine, três se refestelam no deck da piscina, loucas para surrupiar as minhas energias, aumentando ainda mais os argumentos do malsinado analista, que insiste em me ter como um bom vivant. Acho que vou prestar concurso de procurador e pular fora desse raio de vidinha!

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