sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Até relógio com os ponteiros parados consegue marcar a hora certa duas vezes ao dia!

Aprendi a ler e escrever antes de, aos sete anos, entrar para a escola. Como passava boa parte do dia na loja do meu pai, onde costumava ficar os livros de seu cartório, as etiquetas, estampas ou marcas das mercadorias, bem assim as peças processuais foram as minhas primeiras cartilhas, onde eu, curioso, perguntava aos meus pais e irmãos o que aquelas sequências de letras significavam. Como éramos também assinantes de jornal, bem cedo eu já conseguia entender as notícias que eles levavam àquele pontinho esquecido do Planeta: Minas Novas, onde nasci.

Sempre adorei escrever. Na escola primária tive duas excelentes professoras de Português: a minha tia Elisinha e a minha irmã Sãozinha, que me ensinaram a não só curtir a magia dos contos, das poesias, dos livros enfim, como também a me aventurar no mundo da escrita. Como ambas se preocupavam muito mais com a arte de bem ler e de bem escrever, suas aulas não se resumiam à monotonia de estudar aspectos morfológicos da língua. Por esta razão, embora razoável leitor e escritor, não me saí bem nos dois primeiros anos de Ginásio, pois o meu Tio Raimundinho, conhecedor profundo do Português, privilegiava mais os aspectos estruturantes de nossa língua, chegando ao cúmulo de querer incutir em nossas cabeças as cinquenta e três funções do que. Isso foi muito bom, pois, não fosse ele, eu não saberia distinguir um verbo de um adjetivo. Já nos dois últimos anos de Ginásio fui aluno de Português do Guerrilheiro Merival Araújo (um dos mortos pela ditadura), que preenchia as nossas aulas com leituras, sobretudo de obras revolucionárias, bem assim da excelente Professora Magdala Camargos, que se preocupava em nos ensinar ambos os vieses da língua: o prático ou funcional, e o formal. Também no Colégio Diamantinense tive um excelente professor de Português, Zé Arnaldo, que também nos lançou fundo na literatura.

Mas confesso que, ao ler ou escrever, nem me passa pela cabeça que isso é um verbo, aquilo é um pronome ou aquiloutro é uma oração coordenada assindética. Eu simplesmente vou vertendo para o papel ou para a memória do computador as coisas que vão brotando de minha cabeça. Detesto consultar fontes outras que não a minha memória. Por isso, quase não perco tempo, quando escrevo, folheando livros ou outras publicações. Quando acho que o que está alojado em mim não é o suficiente, simplesmente me nego a escrever sobre o assunto, ou mergulho em leituras sobre o tema a que me propus, para então voltar à escrita, quando volto. Obviamente, o texto ficar melhor quando você manja do assunto. Daí uma dica: escreva sobre coisas que você conhece. De preferência, sobre aquilo que você gosta, não importando o que! Se a sua praia é futebol, escreva uma crônica sobre o Esperança Futebol Clube ou o Giminesc de Minas Novas; se de música, faça uma biografia do Mark Gladston, pois ele merece; se de história, experimente entrevistar pessoas como Álvaro Freire e tantas outras que podem contribuir para o resgate da memória de nossa cidade.

Em outras palavras, sou como um motorista que dirige razoavelmente bem, mas que não sabe nada sobre o funcionamento do carro, pois sequer consegue distinguir câmbio de motor. A maioria dos motoristas é assim! Exceção de que me lembro, só o casal de mecânicos de Minas Novas, Seu Vito e Maria de Suvela de Seu Vito, experts nos consertos, mas que jamais guiaram um automóvel ou caminhão, visto que não sabiam dirigir.

A não ser que você queira ser professor da matéria, é bem melhor consumir a maior parte de seu tempo lendo. Quando mais você ler textos bem escritos, mais chances você terá de se tornar um bom escritor. Mas leia de verdade! De nada adianta ficar passando os olhos nas linhas escritas, mas com o pensamento vagando no outro lado do Fanado. Se não entendeu, volte e leia novamente. Se o assunto insistir em não entrar em sua cabeça, o texto provavelmente é ininteligível ou você ainda não está apto a degluti-lo de vez.

Considero bons escritores aqueles que não usam e abusam de construções literárias mirabolantes, bem assim não gostam de aparecer com vocábulos pouco ou quase nada conhecidos da média dos leitores. Experimente, por exemplo, ler o atualíssimo Machado de Assis, Lima Barreto, o Padre Antônio Vieira, Darcy Ribeiro, Otto Lara Resende... Não leve isso, todavia, ao extremo, pois é bom ler outros tão bons, embora pouco ou nada fáceis de serem lidos. Jornais e revistas? Eles já tiveram bons redatores, como Drummond, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Otto. Desse time, resta Murilo Mello Filho, Mino Carta e acho que mais ninguém.  É que os seus manuais de redação pasteurizaram e homogeneizaram tanto seus textos, que eles perderam a identidade, ficando todos bem parecidos, feito mulheres e homens que abusam das cirurgias plásticas. Blogues e outras publicações da Internet? A maioria quase esmagadora não irá acrescentar a você quase nada. Pelo contrário, pode piorar o seu texto. Mas em meio a esse lixão virtual é possível achar coisa boa, sobretudo pessoas que não se acham na camisa de força dos jornalões e das revistonas, como é o caso do meu irmão e escritor, Lalau Mota, do Banu e do Bernardo Vieira, em seus respectivos blogues.

Não tente escrever mais rápido do que suas pernas (ou melhor, seu cérebro, olhos e dedos) aguentam. É como um tricô, onde cada ponto ou laço dado tem que sair perfeito, sob pena de você ter que voltar e desmanchar o que foi feito. Experimente, a cada linha, a cada frase, cada oração ou parágrafo, dar uma paradinha e ver o que foi feito. Vá consertando por etapas. Se você prefere escrever à mão, capriche na letra, pois isso impõe um ritmo cadenciado à sua escrita. Além do mais, o escrever cadenciado facilita a colocação natural de vírgulas, ponto e vírgulas e pontos, bem assim a disposição dos parágrafos. Tenha um dicionário ao lado e não tenha preguiça de consultá-lo se a mais tênue dúvida surgir em sua cabeça. Os corretores gramaticais dos computadores ajudam sim. Mas tenha cuidado com eles, pois nem sempre acertam. Se você conhece alguém que escreve melhor do que você, não tenha vergonha de clamar por ajuda. Uma boa dica é transcrever num buscador do tipo Google a frase que você ficou em dúvida. Na maioria das vezes, uma igual ou parecida surge na tela de seu computador. Veja a sua procedência e vá em frente! Outra dica: abandone a frase e escreva outra (quem não sabe escrever “seis”, melhor preencher dois cheques de “três”)!
Não se preocupe! Até os melhores escritores erram. A vantagem deles é que seus erros costumam virar acertos. Se passado um pente fino neste texto, com certeza algo de errado será achado e eu terei que engolir que errei!
Mas, digamos que você não queira se dar ao trabalho de aprimorar os seus textos. Não se preocupe, ligue o foda-se, apague este texto e manda o seu autor à merda (ou para a merda, o que dá no mesmo!), e vai ser feliz, escrevendo do jeito que você sabe escrever! Afinal, Chacrinha dizia: Quem não se comunica, se trumbica!
Por fim e finalmente finalizando: mesmo um relógio quebrado e, obviamente, com os ponteiros parados; mesmo assim ele marca a hora certa duas vezes ao dia! Do mesmo modo, mesmo que você escreva tudo errado, sua chance de acerto não é absolutamente nula!

Um comentário:

  1. Filha do meu pai que sou, me apaixonei com as letras antes da escola ensinar e até hoje leio de bula de remédio a shampoo no banho, passando por livros, revistas, jornais, classificados, blogues e baboseiras na internet... Escrevendo desde pequenininha, ultimamente estes textos ficam guardados só para mim... Já me disseram que parece um pouco com os seus... =]

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