segunda-feira, 2 de julho de 2012


Uma escola que tem nome de um burro!

Conheci o meu colega procurador federal aposentado, Altino Cunha Rego, paraibano radicado em Brasília, quando eu tinha trinta e poucos anos e ele já chegava perto dos oitenta. Interessei-me logo por sua figura quando ele me disse que era sobrinho de Pedro Anísio Maia, um benemérito de Minas Novas, que cito em meu arremedo de Dicionário de Fanadês. Altino era o típico barnabé, que se vangloriava de jamais ter respondido a inquéritos ou sindicâncias pelo simples fato de que jamais tomara qualquer iniciativa que fosse um milímetro sequer além do feijão com arroz das repartições em que trabalhou. Ele gostava de contar que o seu primeiro cargo, assim que se formou em direito, foi o de promotor de justiça no interior da Paraíba, nomeado que foi pelo seu tio governador daquela então província. Chegado à Comarca numa manhã de sábado e feira, ele se apresentou ao coronel bambambã do lugar e com ele se pôs a conversar na varanda de sua casa, rodeado de capangas e bajuladores. Papo correndo solto, eis que chega um esbaforido sujeito e grita: - tem um cangaceiro rasgando sacos e gente na feira!   Na mesma hora Altino, um fracote de pouco mais de vinte anos, virou para o Coronel e disse: - Mande buscar o meliante!  Meia hora depois, chega o cabra na casa do coronel e é admoestado pelo promotor doutor Altino. O cabra não se faz de rogado e pergunta aos circunstantes: - houve mortos! e todos respondem que não! Aí o cabra, quase que sojigando Altino pela gola do paletó, com ele grita: - Se não houve mortes, então não fui eu!  Nesse mesmo dia, Altino pegou o trem de volta a João Pessoa!
Altino foi dispensado do cargo, mas o tio governador arrumou-lhe outras boquinhas, a última delas, Procurador do Ipase. Do Ipase, ele se tornou superintendente no Distrito Federal, quando o seu compadre Costa e Silva ocupava a presidência da República. Certa noite de domingo, enquanto assistia tevê, o telefone de Altino tocou. Era o seu compadre marechal Costa e Silva: - Compadre, cê tá venu televisão? E Altino: tô sim, compadre Artur!E acabei de saber que Charles De Gaulle vem aqui no Brasil visitar o sinhô.... E Costa e Silva: - É por isso que te liguei, compadre Altino.... Cê viu como De Gaulle é grande e gordo... E se ele tiver um piripaco aqui, Brasília tem alguma cama do tamanho dele?  Verifique nos hospitais de Brasília e me fale! Dia seguinte, após se acercar de que nenhum dos hospitais possuía cama tão descomunal, Altino deu ordens à carpintaria do Ipase e uma cama de dois metros e meio de comprimento foi construída numa pesada madeira de lei e, naquele mesmo dia, instalada no Hospital de Base. À noite, o marechal-ditador volta a ligar e Altino, todo orgulhoso, dá-lhe conta de sua façanha em providenciar tão rapidamente a dita cama. E Costa e Silva: - Vou te pegar aí em sua quadra e vamos lá no hospital ver a bichona.  Altino desceu e logo o Galaxy presidencial, com vários batedores à frente, o apanhou rumo ao hospital. Subiram pelo elevador, sob o olhar atônito de médicos, enfermeiros e pacientes, e tão logo entraram nos aposentos reservados ao estadista francês, o ditador brasileiro sentou-se na cama que Altino mandara construir e perguntou: - Será que ela aguenta o homem, Altino? Olha, Altino, pensa no vexame pro Brasil se esta cama cair! E foi apalpando e testando a cama, que Altino recebeu e cumpriu a mais estapafúrdia ordem: - Suba na cabeceira, Altino, e pule! E Altino passou um bom tempo trepando na cabeceira e estatelando sobre o colchão da cama que tanto ocupou o tempo do Marechal Arthur da Costa e Silva, tido como homem mais burro do Brasil, até pelo seu compadre Altino da Cunha Rego!
O capa-vaca Costa e Silva é nome de uma escola estadual em Minas Novas, onde funcionou o ginásio em que estudei. Isso mesmo! O homem mais burro que o país conheceu é nome de escola. E, pior do que burro, um sanguinolento ditador! E, por ironia ou desgraça do destino, lecionou naquele Ginásio Minas Novas o meu professor de português MERIVAL ARAÚJO, o Capitão, preso, torturado e morto justamente pelo regime ditatorial que Costa e Silva presidiu! (Ver “Mortos da Ditadura”, em meu Dicionário de Fanadês) Merival (Capitão), nome de Praça no Rio de Janeiro, bem que poderia dar seu nome àquela escola ou à praça em frente, onde tantas vezes levamos os mais altos papos, sem que eu desconfiasse de sua militância na luta armada!
Mas Minas Novas é assim mesmo. Lá Bibia (no passado, bebia) continua bebendo, Chica dá vende... João da Farmácia tem um Supermercado e o Burro Costa e Silva é nome de Escola!

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