terça-feira, 31 de julho de 2012

Aos analfabetos políticos


Em meus exercícios mentais,
Que não quero ver consumados,
Sonho com ditadores boçais
Fechando Câmara e Senado!


E com o Congresso fechado,
Suspensos os direitos civis,
A empáfia dos fardados,
Apontando-nos seus fuzis...


Como vivi um tempo assim,
Sei o valor da democracia,
Considerada como chinfrim
Pelos que o seu fim enuncia.


Os que emitem nos blogues
Opiniões tão absurdas,
Agem, sim, feito buldogues,
Surdos e de vistas turvas...


Verdadeiras cavalgaduras,
Não são capazes de entender
Que em caso de ditadura,
Serão os primeiros a perder:


Perder o sagrado direito
De falar qualquer besteira,
Levar um tiro no peito
Ou penar  na Sapucaieira!


É que a democracia
Não é regime perfeito.
Mas seria a tirania
Regime mais escorreito?


Entre todos, eu diria,
De todos, a menos pior,
Pilar da cidadania:
Das piores, a melhor!


Proibir, neste espaço,
Discutir a política,
Não passa de erro crasso,
Cérebro cheio de titica.


Até parece que aqui
A cultura engrandece...
Confesso poucas vezes li
Alguma postagem que preste!


Eis aí a oportunidade
De melhorar este mundo,
A começar pela Cidade
E seus governantes imundos!

Nada custa, em três meses,
Trocar fotos e colagens,
Inundando todas as redes
Com proativas mensagens!


O resto é pura bobagem
Circulando na Internet,
Não as políticas postagens
Que você lê em seu tablet!

sábado, 28 de julho de 2012

Minas Novas - 1918 - A foto deste blog
Esta foto foi tirada da torre, quiçá dos fundos do pedrado lateral da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, por volta ou um pouquinho antes do meio-dia (observe que as pessoas estão quase que pisando em suas próprias sombras). As colchas nas janelas costumam, em nossa cidade, ser estendidas em procissões como Corpus Christi. Mas não se trata de procissão, dado ao fato de que as pessoas não estão em fila. Além do mais, as procissões costumam acontecer em fins de tarde, nunca ao meio-dia. Como as pessoas fotografadas sobem a antiga Rua do Rosário (ex-Marechal Deodoro, atual Av. Valdemar César Santos), é provável que se trate de um Reinado (Reisado), quando o rei ou a rainha do Rosário, ou ambos são levados à Igreja.  O aglomerado no início do cortejo parece com o de um Reinado. Mas as “levadas” de reis à igreja ocorrem pela manhã. Percebe-se que as muitas mulheres estão com seus véus à cabeça, o que pode descartar a tese de tratar-se de um “reinado”, parte da Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas sabidamente profana. Também milita contra a tese de um reinado, o fato de o comércio, no momento da foto, estar com as portas fechadas, sem animais amarrados em frente, como era comum! Festa Cívica também não é, em razão dos mesmos véus! Seria um enterro? Acho que não, pois, a confirmar a data 1918, ou anterior a ela, é de se considerar que o cemitério ainda não havia sido construído pelo Padre Ayala. Antes dele, as pessoas eram enterradas nas Igrejas. Lembro-me de túmulos no piso da Igreja do Rosário, o que poderia levar à convicção de que o séquito da foto conduzia alguém para ser enterrado ali. Mas o vestir das pessoas, sobretudo a profusão de trajes brancos, bem assim a quantidade de subintes, não se coadunam com um enterro de algum Irmão do Rosário, sobretudo à época em que a Irmandade certamente era integrada quase que exclusivamente por negros pobres (os brancos eram enterrados na Matriz de São Pedro, à época existente, ou na Igreja de São Francisco; os pardos, na Igreja do Amparo). Percebe-se que os homens se concentram em frente (pela quantidade de guarda-chuvas pretos). Como havia Banda de Música à época, é de se estranhar a sua ausência, se bem que em frente à casa de meus avós é possível divisar a silhueta de algo parecido com a campa de um baixo-tuba.
Seria a levada do cofre? Ela era feita em marcha muito ligeira (marche-marche). Note-se, bem perto da igreja, uma fila provavelmente só de homens. Talvez isso explica o fato de as mulheres terem ficado para trás!

Quando me dei por gente, isto por volta de 1959-60, a Rua do Rosário possuía fisionomia parecida com a estampada na foto. As árvores são as mesmas de minha infância. Apresentando poucas folhas, pode-se afirmar que a foto foi batida na estação seca, junho por exemplo).  A terceira casa, à direita de quem sobe, era de meu bisavô Juvenato Coelho, que não conheci. Meu avô Durval, que morava ali, casou-se certamente em data próxima à foto, já que meu pai, José Geraldo Coelho, nasceu em 1922. Em minha infância, acima da casa de meus avós, morava Angelino (pai de Tião de Angelino), mais acima Zé Egídio e Loura, depois Wilson e Dóia, a Loja de Leopoldo, a casa de Dona Neide e Lau de Dodó, a casa de Sá Dona Ana, a de Tião de Angelino, a de Sá Maria Remunda, a de Olavo já na esquina; a nossa não aparece na foto, mas fazia divisa com a de Olavo. Ao lado esquerdo, o Comércio de Zé Camargos, a casa de Frade, a de Edgar Pereira, seguida de Jovina, Margarida Alacoque, Tia Maria Jesus, Luquinhas de Lucas, Zé Camargos, Mané Mocinha, Ioiô de Edgar, Ana Baú, Joãozinho de Adelaide, Tião Brandão, Mestre Roxo, Pedro Cirilo, Maria de Araújo...

Quem foi o fotógrafo? Se ele se deu ao trabalho de subir à torre da igreja para bater a foto, não seria razoável supor que ele bateu outras poses, principalmente quando o cortejo estava no Largo do Amparo ou espremido em frente ao Sobrado de nosso tio Cônego Barreiros? Tal foto, se de fato foi tirada, retrataria as pessoas de frente e não todas de costas, como sucede com esta... É bem verdade que as chapas fotográficas eram escassas e exigiam um tempo bem maior entre uma e outra, para que fossem trocadas... Desconfio de que o fotografo foi Capitão, pai de Luiz Leite, ou algum chegado dos Badarós em visita à cidade.

Observe-se que as casas já eram bem antigas, coincidindo com a tese de que a Minas Novas de então (1918), bem assim a que comecei a ver em 1960, foi totalmente construída num curto espaço de tempo (entre 1727 e talvez uns dez anos após). O esgotamento do ouro de aluvião foi rápido e quase todos os garimpeiros se mandaram de lá, rumo a outras minas, sobretudo as de Goiás e Mato Grosso. Em meu Dicionário de Fanadês, falo que por volta de 1960 ainda havia casas vazias e sem donos legais. Além do mais, o problema se agravou quando os Badarós expulsaram de Minas Novas, por volta do ano da foto, muitos adversários políticos, os quais também colaboraram para o aumento de residências vazias.
É de se espantar na foto com o elevado número de mulheres (roupas e sobrinhas brancas, saias pretas para as viúvas), em relação ao dos homens (guarda-chuvas pretos).
A rua fotografada era também conhecida como Rua de Cima, iniciada nos fundos a Igreja do Amparo e seguindo não mais do que cinquenta metros, nos fundos da Igreja do Rosário. A parte nobre da cidade ficava no “Miolo” ou Rua do Meio, onde se localizava a Matriz de São Pedro, o Sobradão, a Câmara, a Cadeia, repartições públicas, comércio. A Rua de Baixo, iniciada abaixo do Largo das Cavalhadas, em torno da Igreja de São Gonçalo, por ser residência dos desbravadores, certamente foi a que mais se despovoou, quando de sua debandada.
Meus ancestrais, exceto os Ferreira Coelho (residentes no Rosário ou na Fazenda da Bandeira Grande), moravam nas ruas do meio: Barreiros, Cunha, Mota, Oliveira, Costa, Miranda, Pinheiro, Sena e Chagas, bem assim parentes tortos como Camargos e Cristianismo. O pai da minha avó Maria Sena Mota era Elias Leon (ou Leão), um aventureiro espanhol. Já o pai de meu bisavô Domingos de Oliveira era o Cônego Napoleão Figueiró, de modo que eu poderia ser Carlos Domingos Mota Coelho Barreiros da Cunha Jobarcun Oliveira Costa de Miranda Pinheiro Sena Chagas Leon y Figueiró, sem contar apelidos de índios e negros também meus ancestrais.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Exame de Sangue

Meire pegou meu exame
E se meteu a o interpretar
E disse:  Carlos, que vexame!
Sua cova pode cavar...

A glicose tá nas nuvens
Seus hormônios no Japão
Seu trigliceres,cruzes,
Quase chega a um milhão

Fiado na conclusão
De que eu iria morrer
Mandei fazer um caixão
Com as tábuas d´um Ipê

Passei a noite a beber
Todo o tipo de porcaria
Certo que ao amanhecer
Meu velório começaria

Imaginei a gritaria,
Ao lado do meu caixão
Também a hipocrisia:
Lá se foi um homem bão!

Mas o dia amanheceu
E eu acordei vivinho
O sol brilhando no céu
Nas árvores os passarinhos

Mas eu continuei cabreiro
Com aquelas loucas taxas
E mal saí do travesseiro
Meti o pé na cachaça

Rápido fiz o testamento
Redigido numa só linha:
Uma sela, um jumento
Era tudo o que eu tinha.

Liguei pra dois amigos,
Dos milhares que já tive
Um se zangou comigo
Me chamando de patife

Mas Meire foi ao doutor
Munida do papelório
E de lá, alegre, ligou,
Pode dispensar o velório!

Com uma notícia tão boa
Meti o pé na cachaça
E assei uma leitoa
Que só sobrou a fumaça!
Me livrei da desgraça,
Mas não do raio do banco
Pois cheques dei na praça
Até com valor em branco
Certo de que a cachaça
Me mataria num tranco

terça-feira, 24 de julho de 2012

SEXTA-FEIRA, 30 DE MARÇO DE 2012


                                   Minas-novas


                São jóias de alto preço os meus sonetos
                quer pela forma quer pelo sentido,
bem trabalhados, musicais, correctos,
muitíssimo agradáveis ao ouvido!


Usando termos do falar comum,
disponho-os de maneira harmoniosa,
seleccionando-os todos, um por um,
como se fossem pétalas de rosa.


Por isso a minha Poesia cheira
à flor do Lácio, afortunada e bela,
como se canta em língua brasileira.


Os versos com a minha assinatura,
ou seja, a minha artística chancela,
são minas-novas... da literatura!


           João de Castro Nunes
Publicada por João de Castro Nunes em 13:18
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1 comentário:

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Lorotas&Marmotas: Empresa Brasileira de Locação de Tuiteiros e Adict...

O escritor João Camilo e a burocracia

Trabalhei no prédio do Inps da Avenida Amazonas, 266, o mesmo em que o professor e escritor João Camilo de Oliveira Torres trabalhou e faleceu em sua mesa de trabalho, em 1973, menos de três anos antes de meu ingresso ali. Convivi com várias pessoas que trabalharam com ele, inclusive com uma secretária que os gozadores diziam ter matado o escritor. João passava o dia lendo e escrevendo em sua mesa de superintendente, enquanto processos, portarias, ordens de serviço, memorandos e outros expedientes aguardavam a sua assinatura. Exceto a secretária, nenhum de seus quase dez mil subordinados podia entrar naquele espaçoso gabinete de trabalho. Ela e somente ela, uma vez pela manhã, outra à tarde! Assim que ela entrava, visível era o descontentamento do professor, mergulhado na leitura ou na elaboração de alguma peça literária. E mais puto ele ficava, quando ela perguntava: - professoooor, onde eu coloco esta bandeja de processos? Já tendo respondido aquela pergunta centenas de vezes, João com ela gritou: - Jogue-a pela janela! Pela Janela! E ela, servidora cumpridora de seus deveres, premida pelo tacão da ditadura então vigente, não se fez de rogada e, num átimo, despejou a papelada lá do alto do décimo segundo andar. Atônito, João, acompanhando de uma ruma de puxas sacos, passou o resto da tarde arrecadando documentos que se espalharam pela Avenida Amazonas, pela Praça Sete e até pela Raul Soares.

UM TEXTO DO PROFESSOR
Home - Ler e Pensar - Colunas  
Nas invisíveis asas das histórias - Leitor errante

Um leitor ou espectador mais atento irá perceber que Shakespeare conta a história de Romeu e Julieta em duas peças diferentes. A primeira, e talvez mais antiga delas, se encontra na peça “Sonhos de uma Noite de Verão”. Nela uma trupe teatral ensaia uma antiga peça grega, baseada na tragédia de amor de Príamo e Tisbe, que narra a história de dois vizinhos apaixonadas que porém enfrentavam uma peculiar dificuldade: o ódio entre as duas famílias e que terminam por conta disto e do destino, por encontrar a morte, lado a lado. É a mesma história de Romeu e Julieta, que Shakespeare não inventou – ela era contada tradicionalmente na península italiana antes dele criar a peça e talvez tenha se originado da lenda de Príamo e Tisbe. 

Mas Shakespeare era um só homem, por mais incrível que pareça, e uma história que viajou da Grécia para a península italiana não parece ser algo impressionante. Mas as histórias estão cruzando territórios bem mais longínquos e por período de tempo e culturas bem mais distantes do que o caminho percorrido por Príamo e Tisbe.  

Certa feita, durante uma aula da professora Sônia Queiroz em um curso de pós-graduação, ouvi a história contada pelo contador tradicional, Joaquim Soares Ramos, de Minas Novas, recolhida por pesquisadores da UFMG. A história, a “Pedra de Ouro” nos conta a trágica história de três jovens irmãos que abandonam o velho pai e a lavoura em busca de riqueza. É curioso notar as semelhanças incríveis com o “Conto do Vendedor de Indulgências”, presente no “Contos da Cantuária” de Geoffrey Chaucer. Ainda que em Chaucer, os três personagens principais encontrem a Morte e não o Diabo, e que eles não fossem irmãos de sangue, a história é basicamente a mesma. Altera-se o tesouro, a arma usada, mas mantém-se o veneno e a resolução final. 

“Os Contos da Cantuária”, em inglês “Canterbury Tales”, foi escrito por Chaucer no século XIV, na Inglaterra. Chaucer é considerado por muitos, um dos pais do idioma inglês moderno e da literatura inglesa que surgiria com o renascimento. Seus contos, escritos em versos, traziam marcas da moralidade religiosa daquele período e narravam a viagem de um grupo de peregrinos até a tumba de São Thomas Becket, e durante a viagem, este grupo diverso, reparte uma série de histórias, de maneira muito semelhante ao "Decameron" de Bocaccio. Chaucer, que conhecera a Itália, quando trabalhara como diplomata, alterou a literatura inglesa, até então muito germânica, abrindo-a para a influência latina, que foi de fundamental importância para uma nova métrica e linguagem que caracterizou Shakespeare e os poetas ingleses. 

Como, teria a história saído de um clássico inglês, quase inacessível, chegando até um contador tradicional como Joaquim Soares Ramos de Minas Novas ? A história, que talvez tivesse sido conhecida por Chaucer de um conto árabe, não é a única a realizar essa transmigração. Você pode comparar ambas as histórias aqui no site da Aletria: A Pedra de Ouro e O Conto do Vendedor de Indulgências, e avaliar se realmente encontramos uma prova da agilidade das boas narrativas. De Chaucer até Joaquim, do século XIV até o XX e da Inglaterra até Minas Novas! 

                                                          João Camilo de Oliveira Torres
.......................................................................................................................................
PREGANDO NO DESERTO. KKKKKK.  Se algum dia algum filho de Deus e de Minas Novas entrar por aqui que me ajude descobrir quem é Joaquim Soares Ramos, citado no belo texto do Professor João Camilo.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Teoria dos blogs abandonados

TSociedade Protetora dos Blogs Abandonados – SOPROBLOAS




“Tudo que nasce tem o direito de viver” 
Tiago Primo de Oliveira, na Rio+20.


PREÂMBULO


Não bastasse em nosso mundo o grande número de crianças abandonadas, homens, mulheres, velhos, cachorros, gatos, jumentos, carros e artefatos espaciais abandonados, a Era Cibernética nos trouxe mais uma vítima: os blogues abandonados. Contados aos milhões, eles vagam a esmo por esse mundão virtual de meu deus, sem que ninguém, nem mesmo os seus criadores ou donos, os acessem ou neles deixem as suas postagens.  
Por outro lado, tal profusão de blogues impõe aos internautas a perda de parcelas consideráveis de seu precioso tempo, ao acessá-los, vasculhá-los para, ao final, perceberem que eles não informam nada! 
A Rio+20, na esteira da Revolução Francesa, da criação da ONU e sua Carta de Direitos e da Rio 92, sequer chegou a considerar proposta feita no sentido de se estabelecer marcos legais e regulatórios no que tange à concepção, gestação e nascimento dos blogues, bem assim tudo o que diz respeito à dignidade, não apenas humana, mas também de todos que vivem, dentre eles, obviamente os blogues. É bem verdade que se aventou ali uma experiência inovadora, surgida na Dinamarca, no sentido de controlar a natalidade dos blogues, sobretudo por via do uso de camisinhas virtuais, o que foi prontamente rechaçado pela Representação do Vaticano. Também se aventou, na chamada Cópula dos Povos, recolher tais blogues em creches, orfanatos e asilos virtuais, o que obteve a pronta repulsa dos que entendem que isso contraria o direito natural à vida em sociedade. Além do mais, prevaleceu a tese de que impor o controle de natalidade dos blogues implica a quebra do princípio constitucional da liberdade de expressão, ainda que tais blogues não expressem coisa alguma.
Para não dizer que a Rio+20 foi de todo desatenta a um tema tão caro ao mundo civilizado, um de seus participantes – o médico-anarquista Alexandre Carvalho Atchun – apresentou aos participantes um artefato humano há muito extinto, capaz de aniquilar com todos os blogues: uma máquina de escrever! Mas sua proposta no sentido de que todos jogassem fora seus lapetopes, aipodes, aipedes e esmartefones não obteve eco algum naquele evento ecológico. 
Certo é que, não obstante a falta de vontade política global em enfrentar o problema, ele existe e carece de enfrentamentos e soluções. E o que é pior! Segundo especialistas em memética, risco há, num futuro não muito distante, de tais blogues se interagirem e replicarem infinitamente, provocando um desastre em toda vida cibernética, mergulhando o mundo no caos!
E foi atenta a preocupações tão ingentes e sedentas de firmes ações, que surgiu a SOPROBLOAS, que se rege pelo seguinte Estatuto




    Nós, representantes do povo blogueiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade internáutica fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte REPÚBLICA VIRTUAL DO BRASIL.
Art. 1º É a Sociedade Protetora dos Blogues Abandonados, doravante denominada pela sigla SOPROBLOAS, uma entidade civil sem fins lucrativos, com sede e foro em Sobradinho, no Distrito Federal, instituída com o fim específico de proteger blogues abandonados na Internet, seja por vontade deliberada ou não de seus criadores, mantenedores, hospedeiros e ou usuários, sem distinção de origem, raça, time de futebol, sexo, altura, cor, tamanho, peso, número de fios de cabelo na cabeça, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
eoria dos blogs abandonados

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Que sujeito chato

O efedepê voltou a me telefonar ontem, minutos após a postagem de “Revelação”. Acionei imediatamente a tecla “ignorar”, enquanto seu esquisito nome piscava nervosamente no displei de meu aifone. E assim agi nas dezenas de tentativas que ele, sem êxito, obrou no sentido de novamente me desancar. Acho que a conta de eletricidade do irado sujeito quintuplicou, tantas foram as vezes que ele certamente recarregou o seu jurássico e pesado aparelho celular. O meu também sofreu um bom bocado e eu, temendo a sua explosão, o meti em frente ao ventilador.  Liguei o rádio e a tevê e, ao mesmo tempo, fiquei de olho nas últimas notícias dos jornais da internete, pois ora temia, ora torcia pela explosão de seu safenado e duro coração.
Homem absurdamente crente na existência do direito, bem assim na sua utilidade para o bem-estar da humanidade, era suscetível de se imaginar o piripaco do vetusto sujeito, ao ler em meu blogue a minha descrença, ou melhor, não crença numa instituição saci-pererística, mula-sem-cabecística, papainoelística como o tal de direito!
Hoje, assim que acordei, o meu aifone estrilou e li em sua tela um número de telefone que desconheço. Macaco velho que sou, acostumado às estratégias e táticas de cobradores, consistente em ligar de vários números, sobretudo do 043 do Paraná, fingi de morto. Além do mais, a exemplo do meu blogue e da porteira do meu sítio já tomada pelo mato, em razão da falta de entrantes e pisantes em sua grama, meu telefone, até ontem, mudo ficava, mudo permanecia e assim razões de sobra eu tinha para ter a certeza de que era ele quem realmente tentava me pegar.  Dezenas de números se alternaram ao longo do dia, mas eu solenemente os esnobei.
Ainda bem que vim parar aqui neste tugúrio perdido na imensidão da macega goiana, onde jamais ele fisicamente me achará, mesmo que o efibiei, a escotelande iarde ou a própria CIA se dignem a vir a seu socorro.
Enquanto o pobre do aifone estrilava que nem cantiga de grilo, me mergulhei em supostas indagações que fervilhavam naquela luzidia careca, tendo por mote a minha revelada não crença no direito.
Certamente ele, utilitarista, negocista e patrimonialista que sempre foi, como o é a quase totalidade da humanidade, está com certeza atribuindo a minha descrença no direito, imaginando-me derrotado em alguma ação que propus. Se essa a sua suposição, digo que ele se enganou esfericamente, pois não gosto de litígios, muito menos os judiciais.
Lido com o direito e suas instituições desde o momento em que comecei perceber o mundo. Inicia-se a percepção de mundo a partir do lugar em que damos os nossos primeiros passos, como a casa, o iglu, a oca, a tenda, a caverna, sob o viaduto, acompanhando mendigos e pedintes. E eu comecei a perceber o mundo na minha casa, cuja sala era tomada pelo cartório de meu pai. Aos doze, o cartório se mudou para o Fórum e eu fui junto e lá trabalhei até os quinze. Dos dezesseis aos dezenove, trabalhei num escritório de contabilidade, lidando, entre outras coisas, com questões legais, como contratos, recursos e coisas assim. Em seguida, me tornei funcionário público e há mais de vinte e cinco anos sou procurador federal. Sou bacharel em direito pela UFMG. Nada disso, no entanto, fez com que eu acreditasse no direito como instrumento capaz de colocar os homens em harmonia uns com os outros, bem assim em harmonia com o cosmos. E fui mais além do que operário das leis, pois me meti a fazê-las, quando exerci o mandato de deputado federal.

Por esse ângulo, eu deveria crer piamente no direito, mas não creio e amanhã começarei a dizer por qual razão!

terça-feira, 10 de julho de 2012

REVELAÇÃO


Um sujeito transformou seu telefone em borduna e caiu de pau sobre os quatro pobres textos que postei neste blogue. Até então meu amigo, ele sequer se deu ao trabalho de depositar aquele enxame de impropérios e palavrões no local próprio do blogue, denominado “Comentários”. Por um lado, uma pena, pois fui privado de conquistar o primeiro comentarista do blogue. Por outro, ele pelo menos me fez a caridade de não tornar público aquilo que maldisse de mim. É bem verdade que, caso ele tivesse publicado os seus xingamentos, ninguém os leria, pois não possuo seguidores ou leitores. Isso se deu na sexta passada e explica o fato de eu não ter dado continuidade ao blogue nestes últimos três dias. Também pudera! A violência com que ele atacou o criado que ora vos tecla (ou “me tecla”) foi de intensidade tão descomunal que os meus neurônios se espalharam de tal forma, a ponto de um deles vir parar aqui na ponta do dedão de meu pé. Curioso é que ele, antes de espiolhar os meus textos, me tinha na conta de bom sujeito. Acho até que ele me considerava um temente a Deus, pio e casto, não o traste em que me transformei assim que ele leu os meus textos. Nem vou aqui reproduzir aquelas palavras, pois com certeza todas elas serão tingidas de vermelho pelo corretor gramatical deste computador, por pertencerem ao mundo da linguagem chula. Além do mais, o Facebook não admite baixo calão em seu sacrossanto e cibernético recinto. Mas a virulência do sujeito foi tamanha que eu fui parar em Minas Novas, quase mil quilômetros distante de Brasília, e lá pulei no colo de minha mãe, trêmulo de medo. Como não há males que não tragam um bem, o meu ex-amigo acabou por me proporcionar a oportunidade de vê-la, abraçá-la e beijá-la, justo naquele dia em que Dona Elisa, minha mãe, completou oitenta e oito anos de uma belíssima vida! Mas mal sabia ela que o filho que tanto admira estava ali lambendo as feridas da refrega virtual em que se meteu! Em apertadíssimo resumo, não foi o sentimento da inveja que moveu aquele sujeito. Nem o da cobiça. Ira e gula, também não! O sentimento que moveu o desnaturado foi o da preguiça. Não a dele, é claro, mas a minha! Por ele, eu, ao escrever os tais textos, me revelei um relapso com aquilo que seria esperável sair de minha cabeça: um texto jurídico, um tratado, um parecer, uma tese ou coisa equivalente!  Tentei me explicar, mas ele não me deixava falar. Quis justificar que o beletrismo jurídico não precisa de minhas letras. Quis demonstrar que não falo nem escrevo juridiquês.  E O QUE É MAIS IMPORTANTE, quis a ele revelar um segredo que guardo há bastante tempo: EU NÃO ACREDITO NO DIREITO! E por que não acredito?
Amanhã continuarei

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sociedade Protetora dos Blogs Abandonados – SOPROBLOAS


“Tudo que nasce tem o direito de viver”
Tiago Primo de Oliveira, na Rio+20.

PREÂMBULO

Não bastasse em nosso mundo o grande número de crianças abandonadas, homens, mulheres, velhos, cachorros, gatos, jumentos, carros e artefatos espaciais abandonados, a Era Cibernética nos trouxe mais uma vítima: os blogues abandonados. Contados aos milhões, eles vagam a esmo por esse mundão virtual de meu deus, sem que ninguém, nem mesmo os seus criadores ou donos, os acessem ou neles deixem as suas postagens.
Por outro lado, tal profusão de blogues impõe aos internautas a perda de parcelas consideráveis de seu precioso tempo, ao acessá-los, vasculhá-los para, ao final, perceberem que eles não informam nada!
A Rio+20, na esteira da Revolução Francesa, da criação da ONU e sua Carta de Direitos e da Rio 92, sequer chegou a considerar proposta feita no sentido de se estabelecer marcos legais e regulatórios no que tange à concepção, gestação e nascimento dos blogues, bem assim tudo o que diz respeito à dignidade, não apenas humana, mas também de todos que vivem, dentre eles, obviamente os blogues. É bem verdade que se aventou ali uma experiência inovadora, surgida na Dinamarca, no sentido de controlar a natalidade dos blogues, sobretudo por via do uso de camisinhas virtuais, o que foi prontamente rechaçado pela Representação do Vaticano. Também se aventou, na chamada Cópula dos Povos, recolher tais blogues em creches, orfanatos e asilos virtuais, o que obteve a pronta repulsa dos que entendem que isso contraria o direito natural à vida em sociedade. Além do mais, prevaleceu a tese de que impor o controle de natalidade dos blogues implica a quebra do princípio constitucional da liberdade de expressão, ainda que tais blogues não expressem coisa alguma.
Para não dizer que a Rio+20 foi de todo desatenta a um tema tão caro ao mundo civilizado, um de seus participantes – o médico-anarquista Alexandre Carvalho Atchun – apresentou aos participantes um artefato humano há muito extinto, capaz de aniquilar com todos os blogues: uma máquina de escrever! Mas sua proposta no sentido de que todos jogassem fora seus lapetopes, aipodes, aipedes e esmartefones não obteve eco algum naquele evento ecológico.
Certo é que, não obstante a falta de vontade política global em enfrentar o problema, ele existe e carece de enfrentamentos e soluções. E o que é pior! Segundo especialistas em memética, risco há, num futuro não muito distante, de tais blogues se interagirem e replicarem infinitamente, provocando um desastre em toda vida cibernética, mergulhando o mundo no caos!
E foi atenta a preocupações tão ingentes e sedentas de firmes ações, que surgiu a SOPROBLOAS, que se rege pelo seguinte Estatuto


    Nós, representantes do povo blogueiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade internáutica fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte REPÚBLICA VIRTUAL DO BRASIL.
Art. 1º É a Sociedade Protetora dos Blogues Abandonados, doravante denominada pela sigla SOPROBLOAS, uma entidade civil sem fins lucrativos, com sede e foro em Sobradinho, no Distrito Federal, instituída com o fim específico de proteger blogues abandonados na Internet, seja por vontade deliberada ou não de seus criadores, mantenedores, hospedeiros e ou usuários, sem distinção de origem, raça, time de futebol, sexo, altura, cor, tamanho, peso, número de fios de cabelo na cabeça, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais

Art. 1º A República Virtual do Brasil, formada pela união indissolúvel dos internautas dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Cibernético de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa virtual;

IV - os valores sociais do ócio e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana dos internautas, que o exerce diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 2º Inexistem Poderes da União
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Virtual do Brasil:

I – construir uma internet livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento de rardiueres e sofitiueres nacionais;

 III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais, através da criação do Bolsa-Tablete;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, time de futebol, sexo, altura, cor, tamanho, peso, número de fios de cabelo na cabeça, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Empresa Brasileira de Locação de Tuiteiros e Adictos de Redes Sociais

Se você tem twitter, mas não consegue um grande número de seguidores, nós temos a solução. Se o seu Facebook anda às moscas, nós também podemos povoá-lo às dezenas, centenas, milhares e até mesmo milhões de adictos.
Nosso catálogo é dividido em diversas categorias de seguidores, tais como
Candidatos
Pagodoreiros
Cantores sertanejos
Sindicalistas
Jogadores de futebol
Baladeiros
Pastores
Genérico

Oferecemos pacotes de no mínimo 24 seguidores. O pacote básico (isopor) garante a você um seguidor acessando o seu twitter a cada hora, cobrindo as 24 horas de cada dia. No pacote Lata, 48 seguidores te acompanham de meia em meia hora. Já o Bronze, 96 seguidores, de quinze em quinze minutos. O Prata, 192 seguidores a cada 7 minutos e 30 segundos; No Ouro, a cada minuto uma mensagem será disparada. No Platinum, de segundo em segundo, cobrindo as 24 horas do dia.
Um Banco de Dados se encarrega de disparar randomicamente as mensagens, cujos textos jamais se repetem na forma e no conteúdo, graças à tecnologia algorítmica desenvolvida pelos nossos laboratórios.
Celebridades locais, nacionais e estrangeiras, contratadas pela nossa empresa, emprestam seus nomes, tornando mais atraente o seu book de seguidores.
No dia de seu aniversário, independentemente do pacote por você contratado, todo o nosso plantel de seguidores manda-lhe mensagens alusivas ao acontecimento.
Com a antecedência mínima de 24 horas, você pode acessar o nosso sistema e solicitar mensagens específicas, do tipo “eu te amo”, “você é lindo”, “ai se eu te pego”, “eu por você faço tudo”, “gostosa” e quaisquer outras que você julgue imprescindíveis ao seu desejo de impressionar.
Com um plus a mais de cinquenta por cento, você pode contar com mensagens de autênticas celebridades roendo de inveja de você.
  Caso você próprio não queira ou não saiba escrever as suas mensagens, nós nos encarregamos disso, pois contamos com uma legião de escritores, poetas, filósofos e os mais variados experts em comunicação, sobretudo compositores de hai-kais.
Criado também pelo nosso Laboratório, podemos disponibilizar para você o Tuítimetro, um aparelho digital que registra o seu número de seguidores. Ele pode ser instalado na capota de seu carro, em frente à sua casa e até mesmo, numa tela de LCD gigante, montada em um outdoor. É, todavia, responsabilidade do contratante, o abastecimento do sistema, o qual comporta até dez dígitos, ou seja, um limite de 9,9 bilhões de seguidores.
Em terminais espalhados por todo o País, você pode imprimir o seu saldo de seguidores, em formato de diploma (A4), em que a nossa empresa atesta o seu número real (ou fictício, dependendo do contrato) de seguidores. Guarde o documento, pois ele pode ser útil a você em entrevistas de emprego, por exemplo.
Pague pontualmente sua fatura, pois nosso sistema é programado para, no caso de atraso, espalhar em toda a rede a sua condição de inadimplente. Caso o indébito persista por mais de 24 horas, o sistema dispara automaticamente na rede os mais absurdos adjetivos a seu respeito, sobretudo apelidos que você detesta, fatos de sua vida do tipo “és corno”, “que mau hálito”, “pena que você brochou na hora agá”, “seu barraco na Vila Vintém acabou de pegar fogo”, “seu pai fugiu do presídio”, “sua bunda é de silicone”, “sua mãe montou uma zona”, “finalmente você foi chamado no concurso de gari da prefeitura”. Mas caso você faça o pagamento, desde que acrescido de multa de mil por cento, o sistema se encarrega de abastecer todos os internautas com pedidos de desculpas, seguido de uma informação de que você será indenizado pelo valor dobrado da fatura.
Essas mesmas expressões e outras mais cabeludas, você poderá mandar para os seus desafetos, mediante paga em dobro. Caso o destinatário seja cliente de nossa empresa, e se emputeça com o seu gesto, o prejuízo decorrente de sua eventual saída de nosso sistema deverá ser arcado por você
Se o foco de seu negócio é ocupar cargos eletivos, tais como vereador, prefeito, deputado, governador, senador ou presidente da república, o pagamento deve ser feito antecipadamente e a empresa não se responsabiliza caso o número de votos obtido por você não corresponda ao número de tuiteiros e\ou adictos colocado a serviço da campanha. Também não é responsabilidade da empresa o uso de nossos produtos antes do início da campanha eleitoral.
Também podemos disponibilizar pessoas de carne e osso para povoar comícios, assembleias sindicais, shows, rodas de samba e de pagode, torcidas, cultos evangélicos, eventos de canção nova, churrascos, raves, festa de formatura, quinze anos, velório, casamento, datas de aniversário de órgãos públicos.
Com a devida antecedência, nossos povoadores de eventos podem decorar palavras de ordem, músicas cantadas por você, preces, orações ou quaisquer outras manifestações verbais e gestuais que o seu negócio exige.
Mantemos também um serviço personalizado que dispara mensagens ou ligações telefônicas para programas de rádio ou televisão em que sejam realizadas votações ou pesquisas sobre os melhores músicos, jogadores de futebol, atores, celebridades, piriguetes e afins. Basta você se candidatar, que nós nos encarregaremos de te colocar no primeiro lugar desses certames.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Abaixo Os Abaixo-Assinados

Abaixo os Abaixo-Assinados!

Não fico do lado da infinidade de críticos que baixaram o pau na recém-realizada Rio+20. Acho que, apesar das presepadas, das melancias postas na cabeça, do palavrório sem a consequente ação, o evento serviu para ampliar o coro dos que pedem corretas medidas contra a iminente destruição da vida em nosso Planeta Terra. Não gosto de palavras de ordem, passeatas, abaixo-assinados, grupos de discussão & Cia, que não sejam seguidos da correspondente ação. Nos últimos quatro anos, plantei dezenas de árvores de grande porte, centenas de arbustos, construí um gerador eólico, implantei sistema de captação de água de chuva, tudo em minha pequena chácara nos arredores de Brasília. Acho muito pouco o que fiz, mas pelo menos estou fazendo a minha parte para consertar a merda que fizemos no mundo. A quase totalidade dos que possuem chácaras em minha região nada faz para que elas se harmonizem com a natureza. Parece que elas só se prestam à ganância e à especulação. Ao vê-las inteiramente devastadas, avalio o que ocorre no restante de nosso País, no mundo, enfim. Mas hoje tive uma alegria ao me deparar com uma matéria no G1, sobre um abrigo de felinos mantido numa propriedade rural relativamente próxima da minha. Imediatamente, mandei um e-mail para a mulher guerreira (sempre as mulheres!) que criou e mantém o tal abrigo e me ofereci como voluntário. O nome dela é Cristina (Cristina@nex.org.br) e ela, que ainda não tive o prazer de conhecer, com certeza precisa de ajuda. Taí a oportunidade para deixar o palavrório de lado e partir para a ação.

segunda-feira, 2 de julho de 2012


Uma escola que tem nome de um burro!

Conheci o meu colega procurador federal aposentado, Altino Cunha Rego, paraibano radicado em Brasília, quando eu tinha trinta e poucos anos e ele já chegava perto dos oitenta. Interessei-me logo por sua figura quando ele me disse que era sobrinho de Pedro Anísio Maia, um benemérito de Minas Novas, que cito em meu arremedo de Dicionário de Fanadês. Altino era o típico barnabé, que se vangloriava de jamais ter respondido a inquéritos ou sindicâncias pelo simples fato de que jamais tomara qualquer iniciativa que fosse um milímetro sequer além do feijão com arroz das repartições em que trabalhou. Ele gostava de contar que o seu primeiro cargo, assim que se formou em direito, foi o de promotor de justiça no interior da Paraíba, nomeado que foi pelo seu tio governador daquela então província. Chegado à Comarca numa manhã de sábado e feira, ele se apresentou ao coronel bambambã do lugar e com ele se pôs a conversar na varanda de sua casa, rodeado de capangas e bajuladores. Papo correndo solto, eis que chega um esbaforido sujeito e grita: - tem um cangaceiro rasgando sacos e gente na feira!   Na mesma hora Altino, um fracote de pouco mais de vinte anos, virou para o Coronel e disse: - Mande buscar o meliante!  Meia hora depois, chega o cabra na casa do coronel e é admoestado pelo promotor doutor Altino. O cabra não se faz de rogado e pergunta aos circunstantes: - houve mortos! e todos respondem que não! Aí o cabra, quase que sojigando Altino pela gola do paletó, com ele grita: - Se não houve mortes, então não fui eu!  Nesse mesmo dia, Altino pegou o trem de volta a João Pessoa!
Altino foi dispensado do cargo, mas o tio governador arrumou-lhe outras boquinhas, a última delas, Procurador do Ipase. Do Ipase, ele se tornou superintendente no Distrito Federal, quando o seu compadre Costa e Silva ocupava a presidência da República. Certa noite de domingo, enquanto assistia tevê, o telefone de Altino tocou. Era o seu compadre marechal Costa e Silva: - Compadre, cê tá venu televisão? E Altino: tô sim, compadre Artur!E acabei de saber que Charles De Gaulle vem aqui no Brasil visitar o sinhô.... E Costa e Silva: - É por isso que te liguei, compadre Altino.... Cê viu como De Gaulle é grande e gordo... E se ele tiver um piripaco aqui, Brasília tem alguma cama do tamanho dele?  Verifique nos hospitais de Brasília e me fale! Dia seguinte, após se acercar de que nenhum dos hospitais possuía cama tão descomunal, Altino deu ordens à carpintaria do Ipase e uma cama de dois metros e meio de comprimento foi construída numa pesada madeira de lei e, naquele mesmo dia, instalada no Hospital de Base. À noite, o marechal-ditador volta a ligar e Altino, todo orgulhoso, dá-lhe conta de sua façanha em providenciar tão rapidamente a dita cama. E Costa e Silva: - Vou te pegar aí em sua quadra e vamos lá no hospital ver a bichona.  Altino desceu e logo o Galaxy presidencial, com vários batedores à frente, o apanhou rumo ao hospital. Subiram pelo elevador, sob o olhar atônito de médicos, enfermeiros e pacientes, e tão logo entraram nos aposentos reservados ao estadista francês, o ditador brasileiro sentou-se na cama que Altino mandara construir e perguntou: - Será que ela aguenta o homem, Altino? Olha, Altino, pensa no vexame pro Brasil se esta cama cair! E foi apalpando e testando a cama, que Altino recebeu e cumpriu a mais estapafúrdia ordem: - Suba na cabeceira, Altino, e pule! E Altino passou um bom tempo trepando na cabeceira e estatelando sobre o colchão da cama que tanto ocupou o tempo do Marechal Arthur da Costa e Silva, tido como homem mais burro do Brasil, até pelo seu compadre Altino da Cunha Rego!
O capa-vaca Costa e Silva é nome de uma escola estadual em Minas Novas, onde funcionou o ginásio em que estudei. Isso mesmo! O homem mais burro que o país conheceu é nome de escola. E, pior do que burro, um sanguinolento ditador! E, por ironia ou desgraça do destino, lecionou naquele Ginásio Minas Novas o meu professor de português MERIVAL ARAÚJO, o Capitão, preso, torturado e morto justamente pelo regime ditatorial que Costa e Silva presidiu! (Ver “Mortos da Ditadura”, em meu Dicionário de Fanadês) Merival (Capitão), nome de Praça no Rio de Janeiro, bem que poderia dar seu nome àquela escola ou à praça em frente, onde tantas vezes levamos os mais altos papos, sem que eu desconfiasse de sua militância na luta armada!
Mas Minas Novas é assim mesmo. Lá Bibia (no passado, bebia) continua bebendo, Chica dá vende... João da Farmácia tem um Supermercado e o Burro Costa e Silva é nome de Escola!